PRIMEIRO BIMESTRE
Texto 1
CONCEITO DE
PSICOMOTRICIDADE
Psicomotricidade é a relação
entre o movimento (corpo), o intelecto (mente) e o afeto (psique).
É a ciência que
estuda o homem pelo seu corpo em
movimento, em relação com seu mundo externo e interno e com suas possibilidades
de percepção, atuação e ação com o outro, com os objetos ao seu redor e consigo
mesmo (Sociedade Brasileira de Psicomotricidade).
A
psicomotricidade está intimamente ligada ao processo de maturação, pois o
corpo é a origem das aquisições orgânicas, afetivas e cognitivas. (SANTOS).
Quando a criança conhece a si mesma, explorando seu corpo e o mundo ao seu
redor, ela passa a ter melhor percepção do outro e maior desenvolvimento de
suas capacidades (BRITO).
É por meio do seu corpo, do
sentar, da manipulação dos materiais que estão à sua volta, que ela tem a
oportunidade de descobrir-se (SAMPAIO, p. 240, 2011).
“Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para
uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das
experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua
individualidade, sua linguagem e sua socialização” (Associação Brasileira de
Psicomotricidade).
Hoje, a Psicomotricidade vai além dos atrasos do
desenvolvimento motor, pois “trabalha a relação entre gesto e afetividade, além
da qualidade de comunicação por intermédio dos mesmos” (BUENO, p. 19,
1998).
Lapierre afirma
que “a psicomotricidade considera o ser físico e social em transformação
permanente e em constante interação com o meio, modificando-o e modificando-se
(BUENO, p. 33, 2013).
O
desenvolvimento psicomotor tem início com o nascimento do ser humano e
completa-se de forma maturacional por volta dos 8 anos de idade. Acontece num
processo conjunto a todos os aspectos: motor, intelectual, emocional e
expressivo (BUENO, p. 33, 2013).
Bueno cita
Lapierre e Aucouturier: “A partir das primeiras experiências psicomotoras que a
criança vai constituindo pouco a pouco o seu modo pessoal de ser, de sentir, de
agir e reagir diante dos outros, dos objetos e do mundo que a rodeia, e a
qualidade da relação que a criança estabelece com o meio é que condicionará a
saúde mental da mesma” (BUENO, p. 33, 2013).
BIBLIOGRAFIA:
BUENO, Jocian M. Psicomotricidade: teoria e prática. 1998 e 2013.
BRITO, Dorival Rosa. Distúrbios Psicomotores. Disponível em:
http://www.drb-assessoria.com.br/3disturbiospsicomotores.pdf.
Acesso em: 01/01/15.
_______, Psicomotricidade. Disponível em: http://www.drb-assessoria.com.br/6psicomotricidade.pdf.
Acesso em: 02/01/15.
Dicionário online de português.
Disponível em: http://www.dicio.com.br/hipercinesia/.
Acesso em: 01/01/15.
SAMPAIO, Simaia e FREITAS, Ivana
B. Transtornos e Dificuldades de
Aprendizagem: entendendo melhor os alunos com necessidades educativas especiais.
Rio de Janeiro, Ed. Wak. 2011.
SANTOS, Rosangela P. Psicomotricidade. Disponível em: http://pt.slideshare.net/Hemeter/rosngela-pires-dos-santos-psicologia-do-desenvolvimento-e-da-aprendizagem.
Texto 2
Desenvolvimento
Neurológico
Texto adaptado do capítulo 4 do livro Psicomotricidade: teoria e prática, de Jocian M. Bueno
O Sistema Nervoso tem um papel
fundamental no desenvolvimento
psicomotor do indivíduo. E o progresso de cada ser está relacionado
diretamente com os estímulos ambientais
que recebe. Portanto, estudar o desenvolvimento neurológico ajuda-nos a
compreender o que é e qual o tamanho da importância da Psicomotricidade.
“O Sistema Nervoso é
único na imensa complexidade das
ações de controle que pode realizar”. Recebe
milhões de estímulos captados pelos
diferentes órgãos sensoriais e, consequentemente, integra tais estímulos, determinando uma resposta que deverá ser executada pelo organismo. Portanto, cores,
sons, cheiros, formas, texturas não seriam notados se não fosse o processamento
do Sistema Nervoso - este que é formado por neurônios e sinapses.
Neurônios são células com
prolongamentos ramificados em fibras nervosas que aumentam de tamanho à medida
que o indivíduo cresce. São responsáveis por: recepção, condução, armazenagem e
transmissão de impulsos nervosos e informações.
As sinapses são conexões de
neurônios entre cérebro e cerebelo que irão se completar por volta dos 4 anos
de idade. Por isso, falamos sobre a importância da educação ou reeducação precoces,
tanto para crianças com necessidades especiais, como para crianças
neurotípicas.
A plasticidade neuronal permite
que um único neurônio tenha ligação com outros mil e que os neurônios de cada
indivíduo “se aperfeiçoem de acordo com suas experiências de vida, confirmando
cada vez mais a relação entre o ser
humano, o meio e as suas relações” – o que a Psicomotricidade estuda.
Texto 3
CAMPOS DA PSICOMOTRICIDADE
A atuação da Psicomotricidade, no Brasil, ainda é mais forte
na área terapêutica do que na área preventiva. São 4 âmbitos de atuação:
estimulação, educação, reeducação e terapia psicomotora.
Estimulação: estimular quer dizer despertar,
desabrochar. Sendo assim, a estimulação psicomotora envolve contribuições para
o desenvolvimento de crianças até a fase pré-escolar (5/6 anos de idade).
Trata-se de um incentivo ao crescimento maturacional da criança, despertando
corpo e afetividade, por meio de movimentos e jogos (BUENO, p. 83, 1998).
Educação: abrange todas as aprendizagens da
criança, desde a pré-escola, vivenciando e respeitando todas as etapas de
desenvolvimento das mesmas. Por meio de percepções vivenciadas trabalha-se com
intervenções diretas nos fatores cognitivo, motor e emocional. Ocorre na
escola, na família e no meio social, tendo como agentes: professores, pais e
educadores. Tem como público-alvo crianças sem comprometimentos maiores (BUENO,
p. 84, 1998).
Terapia: tem como público-alvo indivíduos
com desorganização total de sua harmonia corporal e pessoal: crianças com
quadro de hipercinese (excesso de movimentação de um
órgão e/ou região específica do corpo, com maior extensão e rapidez desses
movimentos, chegando ao estado patológico) com outras
dificuldades, agressividade acentuada, pulsões motoras incontroladas, casos de
excepcionalidade e dificuldades de relacionamento corporal, indivíduos com
transtornos psicomotores associados a transtornos da personalidade. Baseia-se
nas relações e nas análises destas por meio de jogo de movimentos. Trabalha-se
a qualidade do relacionamento corporal e da comunicação afetiva (BUENO, p. 84,
1998).
BIBLIOGRAFIA:
BUENO, Jocian M. Psicomotricidade:
teoria e prática.
BRITO, Dorival Rosa. Distúrbios
Psicomotores. Disponível em: http://www.drb-assessoria.com.br/3disturbiospsicomotores.pdf. Acesso em: 01/01/15.
Texto 4
ASPECTOS: MOTOR, COGNITIVO E AFETIVO
MOTOR
Motricidade é a capacidade de viver o movimento
voluntariamente. E o movimento tem fundamental importância no desenvolvimento
físico, intelectual e emocional da criança. Pelo movimento, a criança entra em contato
com o mundo exterior por meio de experiências concretas (tocar, sentir,
perceber) (ALVES, p. 19, 2012). Consequentemente, ocorre a percepção de
sensações diversas, que auxiliarão na aprendizagem dessa mesma criança sobre
seu corpo e o mundo ao seu redor (BUENO, p. 18, 1998).
Mudança e estabilização na estrutura física e na função
neuromuscular são partes do processo da evolução motora. O desenvolvimento
motor dura toda a vida do Homem e envolve mudanças físicas, além de
“estabilizações, aquisições ou diminuições de habilidades motoras” (BUENO, p.
37, 2013). Inclui as capacidades físicas e as habilidades motoras. Capacidades físicas são aquelas associadas à
capacidade de realização de tarefas motoras (postura, deslocamento).
Habilidades motoras envolvem locomoção, manipulação e estabilização (marcha,
corrida, saltos, lançamentos) (BUENO, p. 37, 2013).
Conforme Bueno (1998), os movimentos podem ser:
Reflexos – são os movimentos executados independentemente de
nossa vontade. São involuntários, ou seja, ocorrem por reação a um estímulo.
Podem ser inatos, como o reflexo pupilar, ou adquiridos, como a sucção (ALVES,
p. 29, 2012).
Voluntários – são ações controladas que têm objetivo de
realizar algo, conforme sua necessidade. Os movimentos voluntários reúnem as
faculdades intelectuais, psíquicas e motrizes (ALVES, p. 29, 2012).
Automáticos – ações intermediárias entre os movimentos
reflexos e os voluntários, pois não são movimentos inatos, nem dependentes de
nossa vontade. Podem ser modificados ou interrompidos a qualquer momento. Nem
sempre se utilizam da função cognitiva. Ex: o andar.
Devemos perceber que nem todo movimento é consciente e o que
sentimos pode refletir em nossas ações, sem que percebamos tais ocorrências –
ato psicomotor (BUENO, p. 18, 1998).
AFETIVO
Wallon acredita que a emoção é a “raiz” da ação, sendo a
emoção o “fator de organização e o meio de comunicação com o mundo” (BUENO, p.
18 e 19, 1998). Para este autor, “o conhecimento, a consciência e o
desenvolvimento geral da personalidade não podem ser isolados das emoções”
(BUENO, 2003, p. 36).
As relações pessoais estão intimamente ligadas às atividades
motora e sensório-motora da criança. Estabelecendo tais relações, as crianças
passam a reconhecer, diferenciar, interagir, integrar, adaptar, dentre outras
funções às coisas e às pessoas. Essas mesmas relações podem ser vistas nas
atitudes, nas expressões faciais, corporais e verbais dos indivíduos (ALVES, p.
31, 2012).
Brito cita os autores DeMeur e Staus:
Além disso a forma como o sujeito se expressa
com o corpo traduz sua disposição ou sua indisposição nas relações com coisas
ou pessoas. Esse aspecto psicológico, muito importante, ajuda-nos a identificar
melhor certas perturbações devidas a fatores afetivos.
Pelo movimento, o indivíduo desenvolve
relações pessoais e sentimentos de auto-conceito (BUENO, p. 48, 2013).
Bueno cita a importância de trabalhar
com brincadeiras de livre expressão, com o intuito de favorecer o poder de
criação de cada criança.
COGNITIVO
Para Piaget, a inteligência é a ferramenta que permite ao
indivíduo relacionar-se com o meio ambiente.
Pelo movimento, estreita-se a relação entre corpo e mente,
influenciando nos aspectos perceptivos e na aprendizagem. Quanto mais as
habilidades perceptivas forem trabalhadas maior será a capacidade de aprender
do indivíduo, uma vez que o mesmo desenvolverá a compreensão “em seu corpo, do
espaço, do tempo e dos conceitos acadêmicos fundamentais” (BUENO, p. 42, 2013).
Bueno cita Kephart: “É pelo comportamento motor que a criança
se relaciona e aprende o mundo que a envolve. A capacidade de lidar com
materiais simbólicos e conceituais baseia-se em percepções consistentes e
verdadeiras do ambiente”. Comenta que as crianças que tiveram experiências
limitadas durante a Ed. Infantil têm mais problemas com a leitura do que as que
foram mais estimuladas e que a “aprendizagem motora é a primeira aprendizagem
humana” (BUENO, p. 45, 2013).
BIBLIOGRAFIA:
ALVES, Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. 5ª.
ed. Rio de Janeiro, Ed. Wak, 2012.
BUENO, Jocian M. Psicomotricidade:
teoria e prática.
BRITO, Dorival Rosa. Distúrbios
Psicomotores. Disponível em: http://www.drb-assessoria.com.br/3disturbiospsicomotores.pdf. Acesso em: 01/01/15.
_______, Psicomotricidade.
Disponível em: http://www.drb-assessoria.com.br/6psicomotricidade.pdf. Acesso em: 02/01/15.
Dicionário online de português. Disponível em: http://www.dicio.com.br/hipercinesia/. Acesso em: 01/01/15.
SAMPAIO, Simaia e FREITAS, Ivana B. Transtornos e Dificuldades de Aprendizagem: entendendo melhor os alunos
com necessidades educativas especiais. Rio de Janeiro, Ed. Wak. 2011.
SANTOS, Rosangela P. Psicomotricidade.
Disponível em: http://pt.slideshare.net/Hemeter/rosngela-pires-dos-santos-psicologia-do-desenvolvimento-e-da-aprendizagem.
Estude a Teoria de Desenvolvimento de Wallon com auxílio do vídeo:
2o. Bimestre
CONCEITOS RELACIONAIS E FUNCIONAIS
Os conceitos da Psicomotricidade
foram divididos em relacionais e funcionais e, consequentemente, a didática da
mesma (BUENO, p. 168, 2013).
Os conceitos funcionais são aqueles que as ações e qualidades podem ser
percebidas, formando a integralização motora do indivíduo. Enquanto que os
conceitos relacionais estão ligados
à forma que o indivíduo os utiliza para relacionar-se com o meio e com os
outros (BUENO, p. 168, 2013).
A Psicomotricidade explora o
potencial ativo de cada um e opera, também, nas dificuldades (BUENO, p. 168,
2013).
A Psicomotricidade funcional visa corrigir disfunções do
desenvolvimento. Utiliza exercícios diretivos. Mensura a capacidade motora
(ULBRAEAD). Tem como objetivo educar as
condutas motrizes, partindo dos déficits encontrados. Busca uma melhor
integração do sujeito tanto na vida social quanto na vida escolar.
Enquanto que a Psicomotricidade relacional vem auxiliar no processo de
desenvolvimento e aprendizagem da criança como um todo. Tem base na
psicanálise. Nesta área, utiliza-se o corpo como forma de expressão e
estimula-se a exteriorização da personalidade – do pensamento – e da
comunicação, por meio de mímicas, verbalizações e gestos (ULBRAEAD).
Para que haja a consciência da
integração dos movimentos corporais com a afetividade é necessário estimular o
desenvolvimento psicomotor das crianças, preferencialmente, até os 8 anos de
idade. Quando não trabalhados, começam a surgir dificuldades na escrita, na
leitura, na fala, na socialização, dentre outras (BUENO, p. 51, 1998).
BASES PSICOMOTORAS FUNCIONAIS:
Esquema Corporal / Tônus
/ Respiração / Coordenação
motora: ampla e fina / Equilíbrio
/ Postura / Relaxamento / Percepção / Espaço
(organização, orientação e estruturação)
/ Tempo (organização temporal) / Ritmo / Lateralidade / Estruturação
espaço-temporal
A coordenação motora engloba duas ou mais atividades motoras: ampla e
fina.
1. Coordenação Motora Global ou Geral ou Ampla
- capacidade de controlar os movimentos amplos do corpo, por grandes grupos
musculares, esteja em movimento – coordenação dinâmica – ou em repouso –
coordenação estática.
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Para que a criança obtenha um bom
desenvolvimento global é preciso que as atividades a serem feitas sigam uma
progressão, partindo sempre de “propostas simples para outras sucessivas e
combinadas, do amplo para o específico”. Assim ocorre com as informações dadas
às crianças – informações simples com poucos estímulos, permitindo que elas
mesmas busquem seus recursos dentro de suas possibilidades (BUENO, p. 190,
2013).
2.
Coordenação Motora Fina – uma
coordenação que exige precisão dos movimentos na execução de tarefas mais
refinadas (cortar, colar, encaixar), utilizando pequenos grupos musculares. Por
volta dos 5 anos de idade, a coordenação motora fina está em seu maior
desenvolvimento.
4.
Tônus – comumente chamado
de tônus muscular, é a resistência de um músculo à sua distensão. É
a firmeza dos músculos, tanto em movimento quanto em repouso. “O desenvolvimento do tônus é condição básica para a aquisição de movimentos globais e manuais coordenados, ou seja, para uma boa coordenação motora ampla e viso-manual”. Relaciona-se às posturas.
a firmeza dos músculos, tanto em movimento quanto em repouso. “O desenvolvimento do tônus é condição básica para a aquisição de movimentos globais e manuais coordenados, ou seja, para uma boa coordenação motora ampla e viso-manual”. Relaciona-se às posturas.
Para Costallat, tônus é um estado
de atenção, necessário para a harmonia do gesto e do equilíbrio. Divide em 3 tipos: muscular,
afetivo e mental. “O tônus muscular refere-se ao movimento executado, o tônus
afetivo refere-se ao estado de espírito apresentado e o tônus mental, à
capacidade de atenção naquele determinado momento da ação” (BUENO, p. 55,
1998).
5. Lateralidade – “é a capacidade motora
de percepção integrada dos dois lados do corpo”. É fundamental para relação com
o mundo (BUENO, 2013).
A dominância lateral é a predominância de um lado do corpo
em relação ao outro quanto à agilidade e força (SAMPAIO e FREITAS).
A partir do final do primeiro ano de vida, a lateralidade
da criança começa a ser definida. E por volta dos dois anos, está definida (BUENO,
2013). No entanto, só podemos afirmar se a criança é destra ou canhota por
volta dos 7 anos de idade.
Alves afirma que a lateralidade pode ser:
. homogênea – quando o indivíduo é
destro ou canhoto da mão, do olho e do pé;
. cruzada – destro da mão e do
olho, canhoto do pé;
. ambidestra – tem força e
agilidade nos dois lados.
6. Esquema Corporal – todos os outros
princípios da Psicomotricidade estão ligados intimamente ao esquema corporal.
Uma criança que não tem bem constituído o esquema corporal não coordena bem
seus movimentos. O esquema corporal é a consciência que a criança tem de seu
próprio corpo, em relação ao espaço, ao tempo, aos outros indivíduos e aos
objetos (SAMPAIO, 2011).
Indispensável à formação da personalidade da criança.
Reflete o equilíbrio existente entre funções psicomotoras e maturidade do
indivíduo (BUENO, 2013).
7. Respiração – compreende a inspiração e
a expiração. A inspiração é a fase ativa, cuja importância se dá pela
oxigenação do sangue e geração de energia para a realização dos movimentos. A
expiração, fase passiva, elimina o dióxido de carbono do organismo (BUENO, 2013).
“Ocorre com a parceria entre músculos e o Sistema Neurológico”.
Ao perceber nossa respiração, compreendemos nosso
movimento interno e externo.
Quando o indivíduo tem uma respiração deficiente seu
nível de energia gerado é menor e seus movimentos passam a ser desorganizados.
Foi comprovada a ligação entre o ato respiratório e a
ansiedade do sujeito. Pode-se observar que crianças com distúrbios mentais
apresentam uma respiração curta e oral, relacionada com aspectos de ansiedade e
desatenção.
8.
Equilíbrio – é a noção da
distribuição de seu peso em relação ao espaço, ao tempo e ao eixo de gravidade.
“É a base de toda coordenação dinâmica global”. Estático ou dinâmico. Estático
apresenta
maior dificuldade, abstração e exige mais concentração da criança. Implica o controle postural. O dinâmico tem relação com as funções tônico-motoras, com os membros e os órgãos sensoriais e motores.
maior dificuldade, abstração e exige mais concentração da criança. Implica o controle postural. O dinâmico tem relação com as funções tônico-motoras, com os membros e os órgãos sensoriais e motores.
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Para ocorrer o equilíbrio da criança, é preciso que
haja uma “estruturação do esquema corporal e uma integração e perfeição dos
mecanismos neuropsicomotores”.
9. Relaxamento – é uma atividade
psicomotora que tem por fim a redução das tensões psíquicas, a descontração
muscular. “O relaxamento proporciona melhor conhecimento do esquema corporal,
melhor estruturação espaço-temporal e equilíbrio, contração e descontração”. O
relaxamento associado à respiração favorece tanto o equilíbrio emocional quanto
a disposição mental (BUENO, p. 205, 2013).
10. Percepção – “é a capacidade de
reconhecer e compreender estímulos” captados pelos sentidos da audição, visão,
tato, paladar, olfato, além das sensações cinestésicas interoceptivas, como
sede e fome. Trata-se de uma “via de acesso ao objeto, às palavras e às ações”.
Frostig afirma que “a percepção é a ponte de relação entre o indivíduo e o seu
meio exterior” (BUENO, p. 207, 2013).
11. Espaço - é em um campo físico que o
corpo se torna presente e ativo, podendo organizar-se, estruturar-se e
orientar-se. A questão espacial é fundamental para a consciência do eu (esquema
corporal), tratando-se da identidade do indivíduo em relação ao mundo que o
cerca. Está ligado intimamente à memória.
“Toda nossa percepção do mundo é uma percepção espacial na qual o corpo
é o termo de referência”.
12. Tempo – a organização temporal é a
capacidade de situar-se em função:
a)
Da sucessão dos acontecimentos (antes, durante,
depois);
b)
Da duração dos intervalos (hora, minuto,
aceleração, freada);
c)
Da renovação cíclica de períodos (dias da
semana, meses, estações);
d)
Do caráter irreversível do tempo (noção de
envelhecimento, passado).
As noções
temporais são muito abstratas. Algumas crianças têm sérias dificuldades em
compreender o tempo. Para alcançarem tais noções, será preciso trabalhá-las no
dia a dia da criança, conforme seu cotidiano. Está ligada à noção de espaço. A
memória é fundamental.
13.
Ritmo
– está presente em todas as atividades humanas, tanto intelectuais, quanto
físicas – pela maneira como andamos, falamos, realizamos gestos etc. Trata-se
de um constante movimento. “É algo
interno que se estabelece pessoal e individualmente no movimento natural [...]
de cada indivíduo”.
É importante que a criança tenha
consciência do ritmo de forma profunda para valer-se e apoiar-se dele. O
exercício rítmico só é educativo quando a criança utiliza a atenção. E quando o
indivíduo consegue estabelecer um ritmo próprio, consegue, também, aumentar seu
poder de concentração e de aprendizagem.
O oferecimento da música às crianças
pequenas é fundamental. E a educação pelo ritmo é uma forma eficaz de combater
a ansiedade, a inibição, a debilidade motora etc.
14.
Estruturação
espaço-temporal – é a capacidade de avaliar tempo-espaço, pensar e agir em
sucessão e em grandeza espacial. Estão incluídos nessa questão: tempo, espaço e
ritmo.
No primeiro ano de vida, a
criança tem somente a noção do movimento. Chegando ao segundo e terceiro ano,
consegue perceber tempo e espaço (BUENO, 2013).
BASES PSICOMOTORAS RELACIONAIS:
Expressão /
Comunicação / Agressividade / Afetividade / Limites /
Corporeidade
1.
Expressão
– é a manifestação de sentimentos, podendo ser facial ou corporal. Deve ser trabalhada
em diversas atividades livres, como mímicas, dramatizações, danças e música.
“Uma expressão plena, de corpo inteiro, só é atingida com a coordenação física
e psíquica integradas” (BUENO, 2013).
2.
Comunicação
– está relacionada à expressão, pois “quando o indivíduo aprende a expressar-se
corporalmente, assume sua identidade e se relaciona com o outro e com o mundo”.
A comunicação não transmite apenas informação, mas, também, um comportamento.
Pode haver comunicação verbal (oral)
e não-verbal (gestual, corporal). É pela comunicação que o ser humano
estabelece relações com os outros e com os objetos. Expressão e tonicidade são
importantíssimas à comunicação. Devemos perceber palavras, gestos e
comportamentos – olhar o outro de forma integral (BUENO, 2013).
3.
Agressividade
– pelos olhares da Psicomotricidade e da Psicanálise, a agressividade é um
apelo, um pedido, uma comunicação desorganizada. Lapierre e Aucuturier afirmam
ser a agressividade “resultado de um conflito entre o desejo de afirmação pela
ação e os obstáculos e interdições que essa afirmação encontra”. Pela
agressividade, “a criança tem a possibilidade de assumir-se e de afirmar sua
identidade”.
4.
Afetividade
– é o estímulo necessário ao desenvolvimento psicomotor – lembrando que a
primeira comunicação da criança com o mundo é pelo movimento. O corpo é o
principal material expressivo dos sentimentos, o que o faz foco da
psicomotricidade.
Para Wallon, a afetividade “é o resultado de sensações
agradáveis e desagradáveis de sentimento de amor e ódio, que determinam a
conduta postural e dão ao corpo sua expressão”. “O corpo é o lugar das
impressões e das expressões da afetividade”.
Piaget afirma que “existe um estreito paralelismo
entre o desenvolvimento da afetividade e das funções intelectuais, e que nenhum
ato é puramente intelectual nem puramente afetivo”.
Na relação da criança com o educador (reeducador,
terapeuta), a afetividade é essencial. O profissional perceberá pela expressão
corporal do seu pupilo suas possibilidades e seus limites, “dentro de um clima
emocional favorável” (BUENO, 2013).
5. Limites – segundo Ferreira, limite
significa demarcação, divisa, fronteira. O limite está ligado à
responsabilidade. A criança tem direitos e deveres, privilégios e
responsabilidades.
Machado afirma
que “descobrir sua liberdade é acima de tudo perceber o seu próprio limite
nessa liberdade”.
Bueno diz que
“respeitar a maturação no desenvolvimento do indivíduo estabelece os limites
dessa liberdade”.
Existem dois
tipos de limites: interno e externo.
O limite
interno é aquele que nos pertence, é de nossa essência – o toque, o afeto, as
sensações, as impressões que “são acessadas pelos orifícios do corpo, como a
pele, os olhos, a boca, as mãos etc”.
O limite
externo está ligado à ação e à comunicação. “Refere-se à noções espaciais,
temporais, de contorno, de textura, de relação entre os desejos das pessoas”.
“Quando não há
limite, a educação se torna ineficaz e prejudicial e as crianças se tornam
insatisfeitas, inadaptadas e com angústias sérias, podendo quando adultas
sentir-se abandonadas e inseguras” (BUENO, 2013).
6. Corporeidade – nasce com o
dualismo mente e corpo. É a “vivência do corpo na relação com o outro e com o
mundo, condição básica para qualidade de vida do indivíduo”. É preciso haver uma
estruturação da imagem corporal. O bebê com uma semana de vida inicia o
reconhecimento de seu próprio corpo. Passa a reconhecer o que é seu e o que é
do mundo, do objeto.
Portanto, a
noção de corporeidade está ligada à noção de identidade, pois para que essa
identidade apareça, o corpo estar organizado em uma imagem global.
Merleau-Ponty
define corporeidade como “a dimensão da situação do homem como ser no mundo” (BUENO,
2013).
Priscila Romero
Vídeos sobre as bases psicomotoras, como devem ser trabalhadas.
Do Ato Motor Ao Ato
Mental: a gênese da inteligência segundo Wallon
(Livro: Piaget,
Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão)
Filósofo,
médico e psicólogo, Wallon tem grande preocupação com as funções psíquicas
dos indivíduos. Fez mais de duzentas observações de crianças doentes, com
retardos, epilepsia e anomalias psicomotoras, além de estudar adultos
traumatizados de guerra.
Sua
psicogenética teve como partida a doença. Wallon acreditava que compreender a
doença era necessário para entender o desenvolvimento normal do ser humano. Em
sua teoria, Wallon descreve as primeiras etapas do desenvolvimento psicomotor:
os estágios impulsivo, emocional, sensório-motor e projetivo.
Dizia que o
ser humano é organicamente social, ou seja, “sua estrutura orgânica supõe a
intervenção da cultura para se atualizar”. Wallon afirma que o contato do
Homem com o meio físico sempre é intermediado pelo social.
A grande questão tratada por Wallon é a
motricidade. Dessa forma, Wallon procura estudar os “órgãos do movimento: a
musculatura e as estruturas cerebrais responsáveis pela sua organização”.
Com o passar
do tempo, o indivíduo vai se apropriando dos signos culturais e,
consequentemente, sua energia motriz reduz para se transformar em atividade
mental. “A sensório-motricidade
incontinente do segundo ano de vida tende – lentamente – a diminuir, dando
lugar a períodos cada vez maiores de imobilidade possível...”. “Embora
imobilizada no esforço mental, a musculatura permanece envolvida em atividade
tônica que pode ser intensa; pensa-se com o corpo em sentido duplo – com o
cérebro e com os músculos”.
Para Wallon, o
ato mental – desenvolvido pelo ato motor – começa a inibir o motor, sem
deixar de ser atividade corpórea.
Pela
expressividade (mímica – movimentos que permanecem inconscientes), o indivíduo
atua sobre o outro, o que lhe permite sobreviver durante seu período de maior
dependência.
Estágios de Desenvolvimento segundo
Wallon
(Livro: Psicomotricidade: teoria e prática, de Jocian
Machado Bueno)
Wallon
– o psicólogo da emoção - acredita que a partir do ato, o Homem estrutura o seu
pensamento (BUENO, 2013). Para ele, a emoção é o foco central de sua teoria,
uma vez que a mesma interfere tanto na construção da personalidade do próprio
sujeito quanto na construção do conhecimento (TAILLE, OLIVEIRA e DANTAS, 1992).
A
emoção também é tida como forte instrumento para sobrevivência, já que por ela,
o bebê tem o poder de mobilizar todo seu meio para o atendimento de suas
necessidades (TAILLE, OLIVEIRA e DANTAS, 1992). Sendo considerada como função
socializadora, fornecendo o “primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos”
(TAILLE, OLIVEIRA e DANTAS, 1992).
O
estudioso afirma que as reações emotivas compõem a vida psíquica e por ela
ocorrem as primeiras trocas com o meio - inicialmente com as pessoas e
posteriormente com os objetos. A emoção se torna visível no tônus muscular.
O
movimento é a primeira estrutura do Homem que se relaciona com o meio, com os
objetos e com os outros seres. É a primeira forma de expressão tanto da emoção
quanto do comportamento.
Wallon
estabelece que a evolução da criança ocorre por estágios. Alguns marcados por
uma construção interna e individual, outros por uma construção externa. Quanto
à organização interna, Wallon privilegia a maturação do organismo. Quanto à
externa, o meio.
São
os estágios de desenvolvimento, segundo Wallon:
1.
Impulsivo – 0 a 6 meses; 2. Emocional – 6 a 12 meses; 3.
Sensório-motor – 1 a 2 anos;
4.
Projetivo – 2 a 4 anos; 5. Do personalismo – 3 a 6 anos; 6.
Categorial – 7 a 11 anos;
7.
Da puberdade e da adolescência.
1. Impulsivo – 0 a 6 meses.
Os movimentos
são meras descargas de energia muscular, que demonstram suas cargas afetivas,
seja de prazer, seja de descontentamento.
O bebê é
totalmente dependente do meio, reagindo por impulsos motores para a satisfação
de suas necessidades. Nessa fase, as pessoas tem maior importância do que os
objetos.
Logo, associa
suas necessidades aos cuidados que recebe do adulto. Quando não, manifesta sua
decepção e irritação com movimentos de pernas, pés, gritos etc.
Controle
postural.
Desenvolve
meios de expressão, como sinais de chamamento, pedido de ajuda.
Adquire os
movimentos:
. de
equilíbrio, associados ao controle postural (posição deitada para sentada,
buscando apoio);
. preensão e
locomoção, associando o corpo aos objetos;
. reações
posturais, associam-se à expressividade e à mímica. A mímica inicia-se no
segundo mês.
Entre o segundo
e o terceiro mês, o bebê sorri ao olhar e responde com pequenos gritos.
Entre o
terceiro e o quarto mês, percebe que está sendo cuidado e corresponde ao seu
cuidador com sinais de alegria ou tristeza.
Aos 6 meses,
estabelece uma relação afetiva, pela sua expressividade corporal.
2. Tônico-emocional – 6 a 12 meses;
Motilidade e
sensibilidade são aprofundadas e o movimento demonstra significado.
Preponderam as
expressões emocionais nas relações.
A emoção
desencadeia a ação. Surge uma pré-linguagem, organizada pelas emoções vividas.
A relação com a
mãe é de extrema importância para o amadurecimento do bebê.
Tem como base a
questão tônico-postural – gestos, atitudes e mímicas traduzem suas
necessidades. A fonte da emoção é o tônus.
Surgem as
primeiras trocas afetivas com o meio.
Consciência
subjetiva – a criança sente a emoção em todo seu corpo e percebe as
modificações orgânicas dessas sensações. Tais sensações passam a ser percebidas
como formas de comunicação e são associadas pelas crianças como códigos de
relações. O bebê utiliza o tônus para se fazer entender.
3.
Sensório-motor
– 1 a 2 anos;
A
orientação ao mundo externo (o seu redor) aumenta, como a organização das
emoções.
Com
a intensificação da repetição de gestos há a possibilidade do gesto eficaz,
denominado por Wallon de gesto inteligente. A criança consegue reagir a um
objeto, manipulando-o.
Ocorre
a passagem da atividade tônica, automática e afetiva, para a atividade de
relação que coloca a criança em contato com o mundo exterior dos objetos.
O
campo sensorial se integra ao motor, devido à maturação do sistema nervoso.
Surge o andar e a evolução da linguagem. São conquistas relacionadas ao
movimento, corpo, espaço e linguagem!
Os
movimentos são voltados para o outro. E a criança passa a identificar e nomear
os objetos, ocorrendo a construção da inteligência prática. Seguindo para a
construção de atitudes, imitação e representações mentais.
A
consciência corporal inicia-se por volta do segundo ano.
Os
objetos são os facilitadores de suas explorações entre o próprio corpo e o
meio, pois por meio deles, alcançam
diversas sensações (odor, textura, cor, tamanho, peso...).
4. Projetivo – 2 a 4 anos;
Aquisição da
linguagem.
Os movimentos
são dirigidos para o objeto e a ação é produto da atividade mental. Portanto, a
criança tem percepção dos objetivos traçados por si própria.
Ganho da
autonomia postural. Expressão por gestos e palavras.
A imitação tem
o intuito de moldar as ações em imagens. Pela imitação ocorre a representação.
“A criança, ao copiar o modelo, interioriza o que lhe é significativo,
associando as impressões sensório-motoras em fórmulas mentais”.
Quanto ao
esquema corporal, a criança, em torno dos 3 anos, percebe o que é de si e o que
é do exterior.
Ação intensa
sobre os objetos, explorando sua independência e realidade.
Prepondera a
atividade intelectual apesar da afetividade ser influente.
Esse estágio
chama-se projetivo, pois toda atividade da criança se dedica às ideias, à
representação e à oposição destas – atividade
mental.
A representação
parte do concreto e as imagens se transformam em símbolos.
5. Personalístico – 3 a 6 anos;
Os
estágios se entrecruzam, ou seja, não são lineares e consecutivos.
Tem
três períodos. Há a evolução do EU, consciência da sua pessoa, refletindo na
independência pessoal.
1º.
Período – entre 3 e 4 anos: atitudes de oposição e inibição. Uso dos pronomes
possessivos com maior intensidade (eu, meu).
2º.
Período – a criança se mobiliza para ser validada pelos outros e por si mesma.
3º.
Período – o modelo do outro passa a ter significado para a criança, havendo a
importância da imitação – formação do caráter da pessoa.
Predomina
a noção do próprio corpo, do espaço e das relações e um sentimento de ciúmes,
uma vez que precisa ser notada mais que os outros.
Aprende
a substituir os objetos e situações por palavras. No entanto, utiliza seu
vocabulário pessoal, havendo predominância da fantasia.
6.
Categorial
– 7 a 11 anos;
Ocorrem
importantes alterações no comportamento intelectual e iniciam pensamentos mais
abstratos (identificação, comparação e classificação).
Progresso
na atenção (maior tempo), nas representações simbólicas e, consequentemente, na
aprendizagem.
Necessidades
do EU e das preocupações sobre a pessoa.
Adquire
conhecimentos precisos e objetivos sobre objetos e si mesma. Ocorre uma
ambivalência entre atitudes e sentimentos.
Mudanças
corporais, fisiológicas, sensação de desorientação de si mesma.
Necessidade
de reajustar seu esquema corporal – ambivalência de atitudes e sentimentos,
timidez e exibicionismo, sedução e desprezo.
“Grande
preocupação sobre si, sobre a razão de ser das coisas, sua origem e destino”.
Concretização da consciência de si mesmo, passando ao estágio adulto.
4o. Bimestre
O desenvolvimento da
personalidade está intimamente ligado ao desenvolvimento físico do indivíduo.
Entende-se que os seis primeiros anos de vida são muito importantes para a
formação do Homem, de forma integral (BUENO, 2013).
Consideramos que a
criança atua no mundo por meio de seus movimentos, sua ação motora, dispondo
não apenas de suas capacidades motrizes, como, também, intelectuais e afetivas.
Wallon afirma que o movimento é a primeira estrutura do Homem que se relaciona
com o meio, com os objetos e com os outros seres. Sendo, também, a primeira
forma de expressão tanto da emoção quanto do comportamento (BUENO, 2013).
Para Vygotsky, o desenvolvimento do sujeito começa com as constantes
vivências com o meio social em que participa e, consequentemente, com as
diversas formas psicológicas que percebe e interage (SAMPAIO e FREITAS,2011). Desenvolve-se como “ser
integral, único e social” (BUENO, 2013).
Bueno entende por
desenvolvimento humano:
o desenvolvimento integrado do crescimento, da maturação,
das experiências pelas quais o indivíduo passa e a adaptação desse corpo no
ambiente, respeitando-se as individualidades de cada pessoa, sua herança única,
bem como as condições ambientais nas quais esse indivíduo está inserido. [...]
inclui os aspectos físico ou motor, afetivo-social ou relacional e cognitivo
(BUENO, 2013).
O mesmo autor afirma
que o desenvolvimento psicomotor caracteriza-se “pela maturação que integra o
movimento, o ritmo, a construção espacial, o reconhecimento dos objetos, das
posições, a imagem do nosso corpo e a palavra” (BUENO, 2013).
O
desenvolvimento integral do educando ocorre por:
·
Desenvolvimento céfalo-caudal – as primeiras
aquisições acontecem pela cabeça e evoluem em direção aos pés. Inicia-se pelos
movimentos oculares (a criança acompanha os movimentos do exterior), cabeça
(move a cabeça para ambos os lados no intuito de olhar o exterior), pescoço
(sustentação da cabeça), controle do tronco (o bebe senta), membros superiores
(uso do dedo indicador, movimento de pinça), membros inferiores (controle da
marcha).
·
Desenvolvimento próximo-distal – da região
central do corpo (eixo corporal) para as extremidades. Começa pelo tronco
(movimento dos ombros) para os braços, mãos e dedos.
·
Desenvolvimento geral para específico –
comportamento e controle motor (musculatura grossa para musculatura fina).
Movimentos simples e generalizados (ampla) para movimentos específicos e
refinados futuramente (fina) (BUENO, 2013).
Primeiros Anos de Vida
|
|
Mês/Ano
|
Características
|
1º.
|
Reação inata – começa a olhar ou deixa de chorar quando
alguém se aproxima;
Comunica suas necessidades pelo choro;
Flexão de seus membros com menos rigidez que ao nascer;
|
2º.
|
Emite sons vocais;
Brinca com suas mãos e os dedos se
abrem;
De bruços, eleva a cabeça até 45º. e
sustenta-se por instantes no antebraço.
|
3º.
|
Sorri como resposta a outro sorriso;
Início da socialização pelo sorriso;
Preensão palmar de objetos, de forma
involuntária;
|
4º.
|
Aproxima-se dos objetos e apalpa-os;
Ri alto;
Rola no chão;
Início de sua orientação espacial,
observando atentamente o meio à sua volta;
|
5º
|
Leva seus pés e os objetos à boca;
Senta-se com apoio;
|
6º.
|
Utiliza seu corpo e objetos no espaço;
Balbucia;
Início da alimentação pastosa, com pequenos sólidos, pela
colher;
Senta-se sem apoio;
Sentada, consegue a preensão manual das duas mãos;
|
7º. /8º.
|
Procura e joga objetos;
Transfere objetos de uma das mãos para outra;
Busca objetos fora do alcance de sua visão;
Sorri ou chora, no simbolismo de aceitação ou rejeição;
Reconhece-se alegremente no espelho;
Repete os atos que lhe interessam;
Demonstra começar a compreender palavras e emite sons;
Começa a sentar-se sozinho e a engatinhar;
|
9º.
|
Fica de pé com apoio por alguns instantes;
Alguns começam a dar seus primeiros passos;
Vocaliza as primeiras palavras de duas sílabas (papa, mama)
instituindo-se a memória;
Inicia o movimento de pinça;
|
10º.
|
Fica de pé sozinho, apoiando-se;
Dá alguns passos e cai;
Bebe com copo (de tampa), segurando-os com as duas mãos;
Para sua ação ao ouvir ordens;
Aprende a falar suas primeiras palavras e repete os sons
que ouve;
|
11º. /12º.
|
Desenvolvimento da marcha, havendo domínio do espaço físico
e do simbolismo (sabe para onde deve se deslocar e com que objetivo);
Diz 3 ou 4 palavras, refinando seu pensamento, entendendo
frases curtas;
Aponta objetos e lança-os com alguma direção;
Anda sozinha, apoiando-se nos móveis, podendo soltar uma
das mãos ao dar seus passinhos;
|
15º./18º.
|
Anda sozinha e pode agachar-se para pegar algo, sem cair ou
se desequilibrar;
Corre com braços e pernas abertos, pode chutar uma bola sem
cair;
Modifica sua tonicidade e movimentos conforme a melodia ou
entonação da voz;
Início da percepção de evacuar e urinar;
Mexe com objetos, os coloca dentro de caixas, tira-os da
caixa, tem consciência do objeto estar dentro, fora, acima e abaixo;
Aprimoramento da coordenação motora fina o que lhe permite
fazer rabiscos e pegar pequenos objetos;
|
2º. Ano
|
Noção de totalidade corporal, ou seja, sente-se em seu
corpo;
Reconhece diferenças sexuais;
Usa colher e lápis, muitas vezes com a preensão correta;
Sobe escadas sozinha, salta com os dois pés, sobe em
coisas;
Realidade e fantasia estão muito próximos (confunde);
Controle total dos esfíncteres;
Aumenta o vocabulário;
|
3º. Ano
|
Usa o pronome EU, o que demonstra tomada de consciência de
si;
Reconhece e explica ações, com vocabulário de cerca de 200
palavras;
Classifica, compara e identifica;
Consciência do seu papel
social, demonstra cooperação;
Usa talheres, quer vestir-se sozinho;
Controle dos esfíncteres, diurno e noturno;
Salta em um pé só, anda de velocípede;
Coordenação motora fina se aperfeiçoa, uso de tesoura;
Por quês?
|
4º. Ano
|
Inicia abstrações e relações com os fatos, mas ainda não
distingue fantasia de realidade;
Distingue frente e costas, veste-se sozinha recebendo
algumas orientações;
Salta com habilidade e anda na ponta dos pés;
Exploração e manipulação da área sexual;
Associa algumas figuras à escrita;
Reconhece cores branco e preto, as vezes, decora outras,
mas ainda não faz distinção entre elas de forma espontânea;
Pensamento egocêntrico;
|
5º; Ano
|
Coordenação motora global desenvolvida;
Amplo desenvolvimento do esquema corporal – compreensão das
partes de seu corpo e seus movimentos, além da consciência de si;
Início da utilização da mão dominante, reconhece os lados
(direita e esquerda) em si;
Coordenação viso-motora está em desenvolvimento, por
exemplo, segura o lápis com mais segurança, desenhando traços retos, círculos
e quadrados;
Salta alternando os pés, com distância;
Agrega-se com crianças do mesmo sexo;
Formação de censura, do certo e errado (heteronomia);
Distingue todas as cores;
|
6º. Ano
|
Experimentação do corpo, com variados movimentos;
Anda de bicicleta;
Possibilidades de escrever;
Atitudes sociais bruscas, tais atitudes vêm com os
sentimentos não elaborados pela criança (agir sem pensar);
Distingue direita e esquerda (lateralização);
Tenta fazer laços, consegue amarrar;
Distingue o que é real e o que é fantasioso;
Desenvolve com mais facilidade jogos de competição e
raciocínio;
Gosta de estar em pequenos grupos;
|
Jogo,
Lúdico e Brincadeira
Lúdico vem
do latim “ludus”, significa brincar. Jogos, brinquedos e divertimento estão
incluídos no sentido de lúdico, como também, “a conduta daquele que joga, que
brinca e se diverte” e aprende (BUENO).
O desenvolvimento do aspecto lúdico
facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora
para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os
processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.
Piaget afirma que “a atividade
lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança”.
Pelo brincar que a criança liberta sua capacidade de criação. E quando motivado, o indivíduo aumenta sua
atenção e concentração (BUENO).
Faria afirma que “a
criatividade desempenha papel importante no desenvolvimento da personalidade do
indivíduo enquanto facilita a comunicação e a livre expressão” (BUENO).
Mas o que é o brincar?
Distrair-se, divertir-se.
Fenômeno indispensável à saúde (física e mental) de toda criança. Brincando, a
criança explora o espaço, faz experimentações, descobertas e invenções, além de
imitações, que são “fontes” ricas de conhecimentos (BUENO).
O filósofo Froebel foi um dos
primeiros estudiosos a afirmar que a criança deve ser educada e desenvolvida
com o lúdico, com o brincar. Constatou que “o brinquedo permite o
estabelecimento de relações entre os objetos do mundo cultural e a natureza,
unificados pelo mundo espiritual” (BUENO).
Vygotsky também afirmou que “o
brincar é uma atividade que favorece
o amadurecimento psíquico da criança, preparando-a para viver as mais variadas
experiências” (BUENO).
E brincadeira? O que é?
Brincadeira é
toda ação de desempenho da criança ao realizar as regras do jogo e “mergulhar”
no lúdico. Importante mecanismo para a aprendizagem, por se tratar de ser meio
de comunicação, recreação e prazer que proporciona relações entre pessoas, meio
e cultura em que está inserida (BUENO).
E quanto ao jogo?
O jogo
é um meio de oferecer um “ambiente agradável, motivador, planejado e
enriquecido, que possibilita a aprendizagem de várias habilidades” (BUENO).
O jogo é um excelente recurso para o
desenvolvimento integral da criança. Podendo ser trabalhados aspectos sociais
(como o respeito às regras, turno), emocionais (mímica, expressões),
intelectuais (raciocínio-lógico) e motores (movimento) (TEZANI). Dessa forma,
percebemos que os jogos podem ser grandes aliados da Psicomotricidade.
Existem jogos: motores
(correr, saltar), intelectuais
(damas, xadrez, etc.), competitivos
(banco imobiliário, jogo da vida) e de cooperação
(em parceria, em dupla). Os jogos dramáticos
diferenciam-se dos outros, uma vez que estes envolvem sentimentos e personagens
(TEZANI). Há, ainda, os jogos simbólicos
que são de imitação, dramatização que também envolvem sentimentos.
Pelo uso de jogos, podemos estimular: coordenação
motora, pensamento, iniciativa, criatividade, desenvolvimento da comunicação,
da observação, da atenção e até mesmo da concentração, dentre outros (TEZANI).
Tudo de forma prazerosa, sem que a criança perceba que está aprendendo e
estreitando seus laços com o conhecimento.
O jogo
estimula o desenvolvimento intelectual e eleva o nível de aprendizado da
criança (TEZANI).
Tezani menciona que não podemos nos esquecer de
traçar os objetivos que queremos alcançar ao trabalhar com jogos e enfatiza a
questão do lúdico quando diz que: “o lúdico permite que a criança explore a
relação do corpo com o espaço, provoca possibilidades de deslocamento e
velocidade, ou cria condições mentais para sair de enrascadas...”
Priscila Romero
REFERÊNCIAS:
BUENO, Jocian Machado. Psicomotricidade,
Teoria e Prática, da escola à aquática. Ed. Cortez, Petrópolis, 2013.
TEZANI, Thaís Crisitna R. O Jogo e os Processos de
Aprendizagem e Desenvolvimento: Aspectos Cognitivos e Afetivos. Disponível em: http://www.profala.com/artpsico38.htm
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